Com a palavra meu amigo Juninho:
Jamais tive pretensão e talento para equilibrar as palavras na construção de bons versos, mas costumo registrar os raros lápsos da falta dessa qualidade. No dia 17 de abril de 1998, por uma razão que não recordo, mas que certamente me tocou, registrei o seguinte texto:
Menino de rua
Pés descalços e pele semi nua. Tua casa é a rua.
Teu brinquedo não é bola, é cola.
Tua lágrima quase nunca é vista, quase sempre
estás sozinho.
Sozinho de amor, abrigo, braços, abraços, beijo e carinho.
Na janela do meu carro me chama de “tio”,
me pede uns trocados para ajudar em casa,
ajudar o pai, ajudar a mãe. Que pai? Que mãe ?
Vou embora, te deixo um trocadinho,
no meio da rua, no meio do caminho.
Pelo retrovisor, vejo a encruzilhada da vida.
Vida que só te olha quando entorpecido,
sonha outra vida, em um banco de praça
ou no chão, confortavelmente coberto
com um pedaço de papelão.
Menino de rua, a falta de sorte é tua, mas a culpa é minha.
Menino de rua não quer cola.
Quer amor, abrigo, braços, abraços,
beijo, carinho, escola e BOLA !
(Miguel Vieira Jr)
Minha maior pretensão nesse caso, é que após doze anos a realidade fosse diferente, que restasse apenas um texto velho e ultrapassado. Infelizmente as palavras que raramente encontro, são as mesmas que terei que dividir com meu filho na tentativa de explicar que muitas vezes ilustrações e textos, são reflexos de uma vida real. No entanto, mais que dividir argumentos, espero ser capaz de demontrar que é preciso redesenhar e reescrever a realidade.