A água subiu o último degrau da porta e invadiu a sala.
Encharcou as cortinas, lambeu os pés da mesa, esgueirou-se pelo corredor, bateu na parede,apagou todas as brasas.
Entrou pela fresta do baú desmanchando as cartas, deformando as letras, desarrumando as palavras.
Cores de papel machê, vasos de flores mortas, ferro e faca, amontoados de nada, vida jogada fora.
Bolhas de sabão, vidros quebrados, um cão já sem dono no abismo gelado.
A menina com pés de bailarina brincou e na urgência da vida chorou, molhada.
Choveu nuvens.
Choveu dores.
E choveu um mundo todo.
E diante da deselegância da chuva e em solidariedade ao que já não mais havia, os sapos em cortejo militar, respiraram toda a água que puderem e morreram afogados.
Lou Witt
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
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