Quem roubou as cores do meu mundo?
Pra onde foram os dias amenos de outono onde o vento brando carregava folhas?
Que mãos gigantes vieram do nada e me apertaram a garganta até quase a morte?
Que instante fugaz de contentamento é este que nem sequer tempo de tocá-lo eu encontro?
Foi de giz escuro que pintaram meu quadro.
Foi de dores vastas que me abarrotaram a alma.
Ontem haviam gardênias na sacada que perfumavam asas de colibris. E margaridas onde pousavam faceiras borboletas.
Havia gatos que se espreguiçavam nas muretas e pássaros que com asas velozes pulavam, ora aqui, ao ali, sem o temor de serem pegos.
Hoje vi uma flor de maracujá desbotada em um jardim alheio e tive a impressão de que antes as flores de maracujá tinham outro brilho, eram mais lilases. Passei a gostar menos delas.
Escrevo nas paredes o que deveria ser inserido na memória, o que deveria fazer parte do cotidiano, o que tornaria a existência viável.
Não existe amanhã nem ontem. O orvalho não faz pulsar as folhas quando a madrugada ressurge.
Tudo dorme na dimensão do meu ser.
Lou Witt