quarta-feira, 14 de março de 2012

Naquela manhã acordou com uma dor traiçoeira, um engasgo visceral querendo expulsar o coração do peito e mesmo que houvesse sol, (e havia), dentro de si o dia insistia em matizes de chumbo e cinza.
Era uma dolência intermitente e insana, um mal estar que arrepiava, subia pelo dorso e se instalava na garganta, algo como uma bola de pêlos lambida e ainda não regurgitada.
O dia mal começava e a noite havia sido longa e abissal, de madrugada quente a deslizar para o amanhecer, de sonhos toscos e impensáveis.
Lá fora um pássaro voava baixo, tão baixo que sua sombra parecia grudar no asfalto.
Que pássaro estranho!
Que pensamento tolo!
O que isso tinha a ver com sua dor?
Tentaria mais tarde, quando o dia estivesse quase no fim e o cansaço lhe fosse companheiro, ser menos trágica e extinguir de vez aquela ânsia do peito.
Beijaria em pensamento uma estrela quando a noite voltasse.
Acomodaria dentro de si a esperança mesmo que fosse parva e escreveria na parede,
como um afresco,
um tratado de paz consigo mesma.

Lou Witt