domingo, 31 de outubro de 2010

Beijos
beijo colorido
beijo estaladinho
beijo de amigo
beijo rapidinho
beijo de esquimó
beijo assoprado
beijo palpitante
beijo demorado
beijo que desperta
beijo que demonstra
beijo viajante
beijo de lembrança
beijo musical
beijo de mordida

pode ser um tanto banal
mas beijo sempre é beijo
e todo mundo gosta de beijar

Lou Witt

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A macieira e a infância
Em meados do outono quando o inverno prometia chegar, a macieira cobria-se de flores rosadas, quase brancas, e perfumava o ar que enchia os pulmões de quem passasse por perto com um doce aroma de flores recém nascidas.
Quando os frutos começavam a aparecer, minúsculos e verdinhos, quase parecidos com uma ervilha, as pétalas desfolhadas caiam ao chão desmerecidas, tecendo um bucólico tapete no qual nossos pés de crianças descalças pisavam como se ali fosse o paraíso.
Naquele tempo, as horas eram contadas pelo andar do sol e sempre que ele se punha no horizonte um certo descontentamento se apossava de nossos pensamentos por saber que o dia estava se tornando noite e teríamos que dormir.
Crianças sempre relutam em tornar um dia findo e queríamos todos os dias infindáveis e espetacularmente perfumados pelo aroma da macieira.
Não que as noites não fossem boas, elas eram também.
Brincávamos de contar estrelas na imensidão do espaço iluminado pela lua e quando não se podia deitar ao solo espiava-se pela fresta da janela para escolher a estrela mais brilhante.
A cada amanhecer o pomar ganhava um novo cenário e as árvores dividiam o espaço com flores multicoloridas e lindos frutos.
Era bom viver assim, em meio ao doce das frutas e ao aroma das flores.
Era divinal não se importar com o desenrolar do tempo que também não se importava com nosso querer e passava sem que tomássemos consciência de sua trajetória.
E ele foi passando.
E a macieira ficava lá sempre a espera de novos frutos e nós, crianças que éramos, corríamos sem limites sem perceber que o tempo impiedoso, aos poucos limitava nosso encantamento.

Lou Witt

domingo, 24 de outubro de 2010

Chove amores em mim
Quando na tarde chegas
E verte risos em minha face

E quer brincar comigo
Como se fosse menino
Que corre atrás da bola

E me arranca suspiros
Quando ficas lânguido
E deixa escapar que me ama

Lou Witt

quarta-feira, 20 de outubro de 2010


Às vezes me acontece algo assim
Tipo cisco no olho
Sapato apertado
Mal estar na alma
É como um pássaro na gaiola
Um deserto sem água
Um tiro no escuro
Um palhaço sem platéia
Um nó entalado na garganta
Um incomodo visceral
É como se um silêncio profundo
Engolisse meu viver

Mas tudo isso é clichê
E eu paro por aqui

Lou Witt

segunda-feira, 18 de outubro de 2010


Meu pensamento
racional
a todo instante
te nega
Meu coração
sem juízo
em todas as nuances
da vida
te procura

Lou Witt

domingo, 17 de outubro de 2010

É um tanto abissal sentir a cor escura do dia
E contemplar pela janela os filetes de chuva
É esta falta de sol que me põe aflita
Que me sacode a mente
com a velocidade de um raio
E lança trovões
Dúvidas
Temores
E me deixa tão densa
Como as carregadas nuvens
Que jogam lanças de saudade
E cravejam o peito num obscuro ritual
Pingos
Telhado
Vidraça
Coração que bate
Em descompasso
nos passos
da chuva

Lou Witt
Voo no vento
Naquela manhã acordou com uma vontade estranha de ganhar o mundo.

Queria ver as borboletas de outros jardins e os pássaros de outros céus.

Caminhou entre as folhas secas de outono sem olhar para trás e a cada passo que dava o desejo aumentava dentro de seu peito.

Abandonaria seu solitário mundo e buscaria entre o tempo e o espaço um lugar onde as lágrimas fossem de açúcar e o pensar fosse uma fina e transparente seda.

Queria que o orvalho da manhã tocasse em sua pele e a brisa mansa e serena lhe beijasse como um amante.

Olhou a vida como se fosse um algodão doce e delicadamente provou o doce sabor da plenitude.

E o vento soprou como em rebeldia desmanchando seu cabelo e trazendo areia fina para seus olhos.

Travou-se então uma batalha entre a vida o desconhecido escuro travestido de medo.

Queria desesperadamente conhecer o mundo que havia depois da esquina e uma voz doce lhe dizia que para seguir em frente teria que se despir de tudo o que aprendera até então e assim ela fez.

Sentia a pele queimar e uma dor insuportável transpassou seu peito, mas sabia que para atravessar a fronteira do previsível e costumeiro teria que sentir o fio da navalha lhe tirando a couraça dos dias iguais.

Um beija-flor pousou em seu ombro num bater de asas tão rápido que mal ela podia perceber seu voo e um cheiro de alfazema transformou o ar o que a fez lembrar de um ritual de acasalamento.

Levantou as mãos e segurou no rabo do vento que saiu numa louca disparada levando consigo uma alma nua e um sorriso escancarado.

Lou Witt

sábado, 16 de outubro de 2010

EU PRECISO DAS TUAS DIGITAIS EM MEU CORPO

Mário Feijó
09.10.10

Eu choro por ti, não somente por ti, mas por todos os que amam e que não são amados. Por aqueles que não compreendem a si mesmos que se esvaziaram de amor e nem compreendem as lágrimas derramadas.
E quando eu choro é como um pedaço de mim que foi embora sem se despedir. Um pedaço que esvazia a minh’alma, que corrói a minha fé na fraternidade humana.
Será que só eu sofro por isto?
E os outros seres do planeta o que fazem pelo amor?
O que fazem um pelo outro?
Venceu o egoísmo? Em qual ordem de seres eu estou?
Não sou melhor que ninguém, mas em meu peito bate um amor cansado precisado de bengalas para sobreviver, para seguir em frente. Mas eu não desisto, embora sofra, e mais lágrimas caem esvaziando a minhalma esquálida, pálida, sofrida, deprimida.
Eu não queria estar tão sozinho nesta empreitada, mas cada vez menos meu coração encontra o eco de outros corações. Cada vez vejo menos lágrimas por amor ao próximo.
O que eu faço para sobreviver?
O que eu faço com esta saudade que sobrou de ti? Com a minha cabeça cheia de fantasmas do passado num futuro cada vez mais triste?
Olho pro mar e chego à conclusão que metade daquela água salgada saiu dos olhos de minha alma...
Sabe o que eu mais preciso neste momento?
Tuas digitais espalhadas pelo meu corpo...

sábado, 9 de outubro de 2010

Minúcias
Quero verbalizar você
Com o som de todas as letras
E sem pauta e nenhuma rima
Formar palavras que te encantem

Quero descobrir o que fazes
Quando meus olhos não te alcançam
E abrir a porta que revela teus segredos
No toque sutil do pensamento

Quero passar noites a contar estrelas
E desenhar teu corpo em versos
Fazer amor em madrugadas frias
E dançar nas nuvens ao som do realejo

Lou Witt

sábado, 2 de outubro de 2010


Estrelas nos olhos

Embaixo da lua
a estrela pingava
no olho alegria
e no escuro da noite
a menina sonhava
com brilho nos olhos

E os sonhos caiam
do céu em torrentes
enchendo seu peito
que de tão pequeno
ficava apertado
tão cheio de sonhos

Mas por um momento
menina adormece
o tempo aproveita
e quando ela acorda
virou gente grande
sem pingos de estrelas

Lou Witt