quarta-feira, 28 de abril de 2010

domingo, 25 de abril de 2010


Estava sentada absorta, olhando para o nada como costumava fazer nas noites solitárias em que nem mesmo a melodia de uma música se fazia presença.
Costumava ficar assim quando sentia muita saudade e o coração de tão apertado mal batia no peito para não doer mais do que de costume.
E naquela noite podia sentir o suave aroma das azaléias que floriam em frente sua janela naquele início de setembro.
Não esperava nada além de um copo de vinho que sorveria lentamente para que na boca ficasse o gosto até que adormecesse escutando o latido de um cão solitário que como ela chorava nas noites por não poder soltar suas amarras.
Mas naquela noite o telefone que sempre era mudo tocou e do outro lado uma voz que ela tão bem conhecia.
E o coração então cresceu tanto que foi preciso parar de respirar por alguns instantes até que o chão voltasse e a razão pudesse ouvir.
E ouviu.
Ele dizia que estava chegando, que trazia nas mãos um buquê de flores brancas e na boca todos os beijos guardados.
Nem pensou em dizer não, o coração não lhe permitiu.
Guardava nas mãos todas as carícias e na boca o gosto do corpo do amado.
Deixou que viesse.
Destrancou a porta.
Colocou uma música e desde aquela noite não mais ouviu o latido do cão solitário.

sábado, 24 de abril de 2010


Abriu o livro nas páginas onde estavam guardadas as pétalas secas.
Fechou os olhos e sentiu o perfume das flores brancas.
Duas mãos quentes seguravam as suas e em meio às flores os dedos entrelaçavam-se.
Uma borboleta dançou no jardim ao lado e de seus olhos saíram faíscas de felicidade.
Um passo mais a frente e as flores quase amassaram entre os corpos.
Um beijo de lábios famintos numa manhã de setembro.
No peito uma aurora boreal nascia e a vida nunca mais seria a mesma.
Abriu os olhos, fitou as pétalas secas, olhou para o dia frio e escuro de inverno.
Esqueceu a aurora boreal e fechou o livro.

sexta-feira, 23 de abril de 2010


E é assim que sempre acontece, você chega e senta ao meu lado e assim ficamos por um longo tempo sem nada dizer.
E é porque entendemos os nossos silêncios e dores que assim ficamos.
E pegas a minha mão e a coloca em teu peito como se quisesse aquecer teu coração.
E é tão intrínseco o que vivemos que nada falamos, apenas dizemos com os olhos nossos mais profundos segredos.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Água doce

A macieira em flor
balança seus galhos
deixando no ar
um perfume de felicidade
que o vento carrega docemente

Meu coração fala
de amores e saudades
e te espera
em cada amanhecer de ouro
com bater de flores e fitas

E quando chegas
trazes nos olhos o brilho
e me põe alegre e mansa
e sacia minha sede
com tua água doce

quinta-feira, 15 de abril de 2010


Tento viver na poesia
Do incessante cotidiano
Abro a cortina
Piso no asfalto
Dou nó em pingos
Refaço versos
Refloresço
Quando o dia nasce
Viro noite
Quando o dia finda

E nesse emaranhar de vida
Sorvo as palavras
Em cálice fundo
Como se cada momento
Fosse eterno
E único

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Poema InVerso
 Lágrimas molham as consoantes
quebradas de um poema
Risos escondidos choram
na esperança de uma nascente
Caem flores tristes
no deslizar dos dedos
As rimas inúteis fogem
pelo descaso das palavras
e o poema resignado
é partido ao meio

segunda-feira, 12 de abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010


E porque ela queria mais que um sonho
mais que tudo
mais que uma vida
Queria o chão em contato com os pés
na terra molhada e fértil
Um lenço para prender o cabelo
e secar possíveis lágrimas
ou para um aceno talvez
Queria um sorriso guardado
daqueles que ficam esperando a hora certa
Pra saltar
Pra nascer
Pra iluminar o pálido do rosto
Queria um sol raiando nas manhãs
uma sombra no meio da tarde
e lua cheia em noites de amores
Mas porque ela queria tudo
e tudo era tão pouco
que foi se perdendo pelo caminho
E dos sonhos de uma vida
ficaram os espinhos
nas mãos que desfolharam as pétalas

quarta-feira, 7 de abril de 2010


Te encontrei como por encanto
num desses acasos
num dia triste de outono
Te encontrei assim
num caminho qualquer
e quando percebi
já caminhava ao teu lado
minhas mãos já eram as tuas
e o peso da solidão havia acabado
Os meus passos seguiam
em cadência com os teus
Tu eras o abrigo
o leite morno
a cama quente
e a vida era um eterno gargalhar

Mas isso foi no outono...
e o inverno não tardaria a chegar

terça-feira, 6 de abril de 2010


Por vezes a vida é assim...

Uma flor murcha no deserto da existência
Um vácuo imenso e escuro no espaço
Uma incerteza
Um devaneio
Um céu com nuvens no vasto universo
Uma folha que o vento leva
Uma lágrima que cai
Um sonho ao meio
Uma dor impertinente rasgando o peito
Um escudo quebrado
Um estalo na mente
Um vaso caído
Um tiro no pé
Uma engrenagem trancada
Um aviso no escuro
Um grito perdido na noite de abismos
Um instante que passa despercebido
Um beijo de adeus
Uma mão sozinha
Um brilho apagado
Um peixe na areia
Um pássaro sem asas numa gaiola aberta
Um olhar perdido pedindo socorro
Uma vida que passa
Que passa
Que passa...
...