domingo, 30 de maio de 2010

Tempo e Vida

Fim de tarde
Vento
Neblina
O cabelo teima em cair no rosto
e os pés pisam em uma poça qualquer
Tudo passou tão depressa
Como nos filmes
Nos livros de cabeceira lidos no silêncio da noite
O vento assovia uma canção quase triste
O tempo parece inimigo de tudo o que já foi ou virá
Tempo soberano que varre lembranças e traz o esquecimento
Parece que sorri com desdém de dores alheias
E passa
Passa
E deixa pegadas por sobre a pele
Rasga vontades
Desnuda sonhos
Preserva a esperança
A esperança flutua entre o real e o inatingível
Mas nunca morre
O tempo extravasa
Sopra feridas
Acende brasas
E a vida?
A vida desafia e faz trapaça zombando do tempo.

terça-feira, 25 de maio de 2010


Toca em mim aquela canção
Me transforma em melodia
E entre meus joelhos
faz nascer um poema

segunda-feira, 24 de maio de 2010


Ele chegou naquela noite de verão em que a lua banhava o horizonte de prata e as estrelas enfeitavam o céu como colares e contas.
Trazia na boca o gosto dos dias de espera e muitos beijos sedentos de amor.
Ela olhou em seus olhos e roçou levemente em seu corpo antes do abraço. Sentiu as mãos quentes, o corpo, o gosto do beijo.
Sabia que ele viria um dia e esperou por ele nas noites em que a solidão era sua companheira.
Agora ali, queria tragar sua presença, consumir, amar, ser um só.
Um corpo nu, uma alma despida, uma vida inteira num momento e nada mais existia.
Sentia no peito uma chama e no corpo mil brasas.
Dedos deslizam
Corpos se encaixam
Exploram veredas
Fecundam a vida
Explodem orgasmos
E quando a noite quase se fez dia e o sol entrou pela janela dois amantes dormiam banhados de lua e cobertos de estrelas.

domingo, 23 de maio de 2010

Sopro de um anjo

Na madrugada
Em estado de semisono
Senti um cheiro
De hortelã e manjericão

Pensei que era um sonho
E o cheiro se transformou
Em um doce aroma
De jasmim e dama da noite

Não era o cheiro do meu cabelo
Nem do meu hidratante
E nem dos lençóis
Ou da minha roupa

Era como um hálito doce
Um respirar de anjo
E o que escrevo
Não é apenas um poema

Não pense que foi uma ilusão
Ou que eu estava sonhando
Ainda trago comigo
O perfume de um anjo

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ahhhh, como chove!!!

E mais uma vez minha terra é castigada pelo tempo. Atingida por um ciclone entre a noite de terça-feira e a madrugada desta quarta-feira, choveu em quatro horas o dobro previsto para o mês todo de maio.
A grande região de Florianópolis foi a mais afetada e nossa amada ilha ficou em pedaços.
Nossas lindas praias foram varridas pelo vento e a maré destruiu moradias e embarcações.
A praça XV ostenta uma figueira centenária e inabalável rodeada de escombros de árvores menores e lama.
Choveu. Choveu tanto que carros foram engolidos e casas desabadas. Animais procuram um pedaço de terra firme e gentes procuram um abrigo onde possam sentir-se seguras e acolhidas.
Nossa terra tão linda de mar azul e céu estrelado foi dominada pela fúria da natureza e ficou inerte esperando que as nuvens secassem e o vento forte perdesse a imponência.
E nesta manhã quando o sol refletia nas ruas alagadas muitos travavam sua luta com o que restou da água, lama e pertences. Povo que não desiste e sempre se reconstrói.
Agora, no meado da tarde o sol se esconde por trás de nuvens espessas e escuras dando sinais de que até a noite a chuva voltará e queira Deus que não seja tão devastadora.

segunda-feira, 17 de maio de 2010


Vem como um menino
mocinho ou bandido
e desliza em minha pele
escorrega em meu umbigo
me molha e me acende
mistura com a minha
a tua saliva
me arranca suspiros
e me diz palavras santas

domingo, 16 de maio de 2010


Ele chegou trazendo fantasia no olhar e feito pássaro leve, pousou em sua janela.
Tinha flores nas mãos e mel nos lábios e onde passava deixava um cheiro de alfazema e jasmim.
Os olhos eram de profundo brilho que refletiam as estrelas e dilatavam a pupila.
Falava palavras doces e atrevidas e tinha um enorme zelo com as atitudes o que causava maior encantamento.
E a noite se fez festa no bailar da lua.
E os pássaros não dormiram durante noites só para saudar a sua presença.
E dentro dela algo foi nascendo como um regato a banhar colinas.
Coração foi crescendo e o peito ficando pequeno.
Dias de brilho vieram e iluminaram sua face.
Sorriso largo e borboletas nos olhos.
E se fizeram únicos no romper da aurora.
Flor e poesia.
Orvalho e seiva.

segunda-feira, 10 de maio de 2010


Quando menina não sabia brincar com as palavras,
mas reconhecia o encanto que a poesia do mundo lhe causava.
Brincar com pedras e flores era uma forma infantil e implícita de fazer poemas.
Quando cresceu sabia que o mundo era feito de cores e formas que poderiam ganhar vida através das palavras.
E foi esse encantamento pelas palavras que deu magia a tudo que suas mãos pudessem tocar e a qualquer coisa que os olhos pudessem transformar em poesia.

sábado, 8 de maio de 2010


O mar me chamou
e com suas ondas de sal
envolveu-me
E com sua espuma branca
lambeu minhas pernas
E murmurou
roçando em mim
sua areia fina

E eu fiquei encantada
ao ver suas estrelas

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sussurros da vida

A vida sussurra pelos cantos
E vai deixando sua marca
Em cada pedaço de chão
E se faz presente em cada gesto
Em cada olhar

No sorriso da menina
No encanto das palavras
Na explosão de uma estrela
Na lua prata que reluz
No verso de cada poema
Na fogueira da paixão
No beijo de amor roubado
No silêncio da manhã

A vida sussurra atrás da cortina
E é preciso ter olhos de coração
Para poder escutar

sábado, 1 de maio de 2010


Você já sentiu o coração
crescer dentro do peito
assim num repente
que parece que o espaço
é pequeno para ele?

Pois o meu às vezes
faz isso comigo

Coração palhaço!!!

Tempo de sonhar

Naquelas manhãs
podia-se ficar à janela
só para ouvir o canto dos pássaros
e piscar só de vez em quando
para não perder o voo das borboletas

Naquelas tardes
as horas eram de se arrastar
para ter bastante tempo
de dizer qualquer palavra que fosse
e que coubesse dentro dos minutos

Naquelas noites
era possível ver o clarão da lua
pela fresta do olho
e escutar o som do universo
ao nascer das estrelas

Naquele tempo
era permitido usar giz de cera
nos dias para não serem cinzas
e fragmentos de estrelas
nas noites para serem prateadas

Naquele tempo
era tempo de sonhar


A vida sempre fora assim de uma certa estranheza, talvez não tenha vindo ao mundo por muito tempo, uma breve passagem, um andar sem pegadas, um gemido de alma.
Suas palavras são como suspiros, disse ele, e foi embora.
E o vento continuou a balançar seus cabelos e a vida continuou estranha como sempre.
Passos lentos nos dias que passam em desalinho e o vestido cola no corpo fazendo uma carícia, fingindo ser o que não é.
Risos em rostos estranhos, brilhos em olhos que desconhece e pétalas de flores já secas guardadas no fundo do peito.
Frases tortas, desconexas, alheias a tudo o que passa ao redor de seu mundo sem cores e um pássaro que canta ao longe uma canção derradeira.