sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A água subiu o último degrau da porta e invadiu a sala.
Encharcou as cortinas, lambeu os pés da mesa, esgueirou-se pelo corredor, bateu na parede,apagou todas as brasas.
Entrou pela fresta do baú desmanchando as cartas, deformando as letras, desarrumando as palavras.
Cores de papel machê, vasos de flores mortas, ferro e faca, amontoados de nada, vida jogada fora.
Bolhas de sabão, vidros quebrados, um cão já sem dono no abismo gelado.
A menina com pés de bailarina brincou e na urgência da vida chorou, molhada.
Choveu nuvens.
Choveu dores.
E choveu um mundo todo.
E diante da deselegância da chuva e em solidariedade ao que já não mais havia, os sapos em cortejo militar, respiraram toda a água que puderem e morreram afogados.

Lou Witt
Sorte existirem os loucos
Loucos de pedra
De montanhas
De mares
Loucos de sonhos fartos
De sorrisos escancarados
Loucos de glória
Loucos de amor

Lou Witt
As flores se entrelaçam nos campos
E se misturam confundindo as cores
De longe eu olho com cuidado
E tudo o que vejo
É um imenso manto púrpura

Lou Witt
A menina dança
Com seu vestido de renda
Seus pés são sonhos
de cetim rosa
E seus cabelos
são girassóis de Van Gogh

Lou Witt
Elas estão aqui
Basta eu abrir a janela para ver
Basta eu abrir os olhos para sentir
Basta eu abrir o coração para ser
Como uma flor

Lou Witt