quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Crônica de um adeus

Dezenove horas do dia vinte de agosto de 2008. Acaba-se uma vida, ou um estágio dela, quem poderá saber, quem nesta vida poderá afirmar alguma coisa?
1200 km me separam do último adeus àquela que um dia me trouxe ao mundo.
Algumas coisas a serem resolvidas antes, tudo sob controle, o tempo seria suficiente, era só manter a calma, guardar as lágrimas para mais tarde e segurar o coração dentro do peito. Foi melhor assim, ela já não estava vivendo uma vida digna de ser vivida. É preciso acreditar nisto e parar de roer as unhas antes que sangrem. Um banho antes de seguir caminho e um susto: o sangue escorrendo pela narina, uma veia rompida, nada grave, um chumaço de algodão, tudo resolvido.
O escuro da estrada, o caminho era longo. A neblina cobria tudo e era preciso cautela. Na madrugada a chuva, um caminho errado, três horas de atraso. Maldição! Não daria mais tempo. Palavras de ira saiam como raios de minha boca. Estaria Deus me testando? O que Ele estaria pretendendo de mim?
Vamos voltar. Jamais chegaremos a tempo.
Vamos prosseguir, eu nunca desisti de nada no meio do caminho.
O marcador apontava 140, 150, 160 km p/hora, nunca em sã consciência eu andaria em um carro com aquela velocidade, mas se ele pudesse voar eu agradeceria.
Era preciso chegar até as 15 horas, os minutos voavam e os quilômetros se estendiam, parecia um daqueles sonhos em que não conseguimos sair do lugar.
Algo dentro de mim continuava a dizer que não daria tempo, mas a esperança desmentia e falava que sim.
Exatamente 14h58m chegamos.
O carro havia sido dirigido por um anjo e guiado por Deus.
O caminho que segui então, me pareceu tão ou mais longo do que a estrada que havíamos percorrido. Meus pés pareciam acorrentados. As pessoas me abraçavam, muitos eu nem lembrava quem eram, mas se estavam ali, eram parentes ou amigos, pessoas queridas. Consegui entrar em uma sala e só então o avistei. Ele estava em pé, ao lado do caixão. Abracei meu pai e choramos. Só depois vi o corpo sem vida de minha mãe. Estava coberto de flores amarelas e brancas, sob o peito um lencinho branco que combinava com seus cabelos. Em seu rosto Deus havia colocado a imagem da paz. Finalmente ela estava em paz.

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