segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Tarde de abismos


Um silêncio profundo fazia-se ouvir naquela tarde onde as pessoas com passos apressados e absortos movimentavam-se como se fosse um filme em câmera lenta.
Um palhaço mudo fazia malabarismos com bolas coloridas que flutuavam no ar e caiam novamente em suas mãos em movimentos rápidos e precisos. Palhaço sem sorrisos e de pés descalços em cima do asfalto escuro e quente.
Um cão quase sarmento junto ao dono sobre jornais e garrafas vazias tentava latir protegendo o osso e o dono maltrapilho. Quem se importava com seu osso ou com seu dono?
O vento fazia jus ao cenário e mal balançava as folhas das poucas árvores que restavam e que disputavam o lugar com postes, cimento e gentes.
Uma mão segura na outra atravessava a rua deixando cair o que sobrou de um pirulito que foi doce e deixou na boca o gosto de felicidade que por minutos desmanchou-se ao toque da saliva.
E num rastro lento ela olhou o relógio na catedral desmerecida pelo tempo. Um amarelo quase nada de portas amadeiradas e com trancas onde ninguém entra antes da hora e a hora é sempre tardia e solitária.
Almas bailavam do beco escuro como fumaça do cigarro ao meio que faz companhia e mata porque nada nesta vida é de graça e quem achar graça nisso paga o preço que lhe é cobrado. E nunca é pouco.

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